Estamos sob a égide da tecnologia digital, com seus métodos de codificação e transmissão de dados de informação. Papel carbono, máquina de escrever/datilografar, mimeógrafo ficaram no passado. Porém, para pensar o presente e o futuro é preciso resgatar o passado. O passado é lição para refletir, não para repetir! Quem imaginaria a KODAK quebrar? Já no mundo digital tivemos “mídias” que também desapareceram: ORKUT. Devemos guardar o passado glorioso das máquinas de escrever ao comparar com o papiro. Mas sem o papiro, sem a Olivetti, sem as velhas “tralhas” não haveria o mundo digital. O REAL E O ILUSÓRIO Pouco antes de nos deixar, o grande Umberto Eco nos legou uma frase lapidar: “’As redes sociais deram voz a uma legião de imbecis”. Sim, O real é que há genialidades nos youtubers e influenciadores. Porém, é real que existe mais ilusório que real também. Profissionais do Direito – de algum tempo para cá – caíram no “conto do vigário” ao tentar querer ser “modernos e avançados” a qualquer custo. Seguiram o roteiro e a narrativa dos modismos que se vendem nas redes sociais, dos pop stars destas mídias. Ilusório achar que um operador do Direito num mundo de não leitores, de muitos digitadores, vá se igualar com qualidade aos cliques, likes, tik toks de uma “nova galera”. Amarga ilusão. PROFISSIONAL LIBERAL Mesmo sendo um termo em desuso, advogados, arquitetos, engenheiros são profissionais liberais. Mesmo em trabalho cooperativo, um escritório não é e não será uma empresa. Tem características diversas. Um advogado cobra preço justo e não tem um “lucro justo”, quando age com boa-fé. O trabalho jurídico não é uma mercadoria, não é artigo de moda, tem um público receptor bem restrito. Logo, suas redes sociais “não vão bombar”. Há técnicas e meios de atingir públicos maiores, como nossos “ases” da Filosofia, Karnal, Pondé e Cortella, para citar. Podem ser exemplos a serem pensados por nós para atingir públicos maiores. Se eles chegam a alguns milhares pelo conteúdo e forma, por causa das redes, milhões os desconhecem e desdenham. REDES DE SERIEDADE No South Summit, recentemente realizado em Porto Alegre, um executivo da Dell disse que eles tem um time de consultores dedicados às pequenas e médias empresas, inclusive startups, que conhecem as necessidades dessas empresas e auxiliam de forma consultiva e gratuita. Houve surpresas. Se pudesse, teria dito que esta transnacional deveria cuidar dos profissionais liberais com o mesmo afinco. O que falta aos profissionais liberais, em especial, aos operadores do Direito são consultorias e assessorias sérias, para ajudar a criar redes de seriedade no meio. Lastimo dizer que encontramos mais oportunistas de plantão para vender programas, mentorias, consultorias e assessorias do que profissionais liberais que ofertem ajuda para novas redes de seriedade, a fim de que o profissional advogado possa chegar a um público maior e alcançar seus futuros clientes. O TEMPO Nosso tempo é líquido. É acelerado. É opressor, quando as tecnologias deveriam ser libertadoras. A pessoa entra em parafuso quando não atinge o público almejado. Fica deprimida por falta de likes em suas publicações. Havia grandes advogados com suas máquinas Remington. Não se esqueçam disto. Havia anotações em fichas, em arquivos físicos. Tudo era bem mais difícil. E muitos venceram. Tocavam as teclas com cuidado, porque tinha um papel carbono para uma cópia. Errar não se podia. Agora, o corretor faz milagres, corrigi, mas também engana. O tempo exige usar zoom, meet etc. A tela do computador ou do celular são essenciais. Mas não são tudo nestes tempos sombrios, de medos, de xingamentos, de disputas e de silêncios por parte de quem deveria responder. São tempos em que juízes não estão numa redoma de vidro, como se falava no passado, mas estão escondidos atrás de uma tela, evitando atender um profissional da área jurídica. Estamos no 10ª aniversário da Lei de Acesso à Informação. Muito se evoluiu, mas ainda assim, muito fica escondido. Estamos num tempo de aplicação e adequação da Lei Geral de Proteção de Dados, mas que dados? Os dados pessoais, diz a norma; porém, com a Inteligência Artificial e os algoritmos, as megaempresas do setor de tecnologia da informação sabem tudo e gravam tudo. Trabalhamos de graça para elas e estas detem todos os nossos dados. Segundo a pesquisadora americana Shoshana Zuboff estamos sob vigilância o tempo todo, e quem dita as regras são as corporações para fugir das normas legais. Como ficamos nós os operadores do Direito neste mundo digital? Em que regras corporativas se sobrepõem ao texto legal? Verificamos que não só os operadores de Direito, mas os profissionais ainda não se adaptaram aos novos tempos. Alguns profissionais estão mais estressados e até apavorados. Tentam soluções milagrosas. E isto não existe. É preciso encarar os novos tempos com serenidade, sem buscar atalhos, pois estes podem nos colocar num labirinto. Já temos pessoas no labirinto e perdidas. Nisto devemos seguir os ensinamentos do mestre Norberto Bobbio: “A história é um labirinto. Acreditamos saber que existe uma saída, mas não sabemos onde está. Não havendo ninguém do lado de fora que nos possa indicá-la, devemos procurá-la nós mesmos. O que o labirinto ensina não é onde está a saída, mas quais são os caminhos que não levam a lugar algum.”